quinta-feira, 2 de julho de 2009

Preto ou Branco



Não vou falar aqui dos avanços da televisão e do cinema, mas do mundo em que vivemos, cheio de cores mas que apenas uma minoria consegue enxergá-las. O problema não está em nossos olhos nem nas cores, mas em nossa sensibilidade, empatia ou melhor, na falta destas.
Aqui, quem sai da regularidade, quem ousa e quem é diferente é maluco ou precisa ser preso. Não se trata de quebrar regras, sair dos limites da lei, mas apenas ser único. Precisamos reproduzir o tempo todo!
Criar é fazer algo jamais feito, é pensar algo jamais pensado, é transformar e inspirar. Mas neste mundo, a criação deve ser tão perfeita quanto o criador, não admitindo qualquer vacilo. A obra espetacular não pode pertencer a um homem mas apenas a um Deus.
O negócio aqui é ser bom ou mau, inteligente ou burro, lindo ou horroroso e para não me estender mais, esfuziante ou deprimido. E o mais importante é que para se posicionar não pode esquecer de três palavras mágicas: rotular, estigmatizar e excluir.
Apesar de sermos parte de um universo cheio de cores e nuances, ainda é muito difícil sair do preto ou branco. Giramos em torno desta lógica alienante que produz a todo vapor nas pessoas uma superfície à semelhança de seu criador ou criadores. Estes, investem toda a sua energia em projetar no outro uma sombra que é sua e sempre em tons de preto ou branco. Basta surgir uma nova nuance que lá estão eles, e muitas vezes nós, taxando. Assim gira a roda do nosso mundo interno, desta forma, o que não é conhecido ou reconhecido, com urgência se familiariza por intermédio do nosso eficaz e faminto juízo de valor.
Respiramos em uma atmosfera de incoerência e inconsequência, onde até os desejados famosos são caçados, ridicularizados e extirpados de uma sociedade que os coloca no topo. O meretíssimo juizo de valor entra com uma ferramenta poderosíssima, a mídia, decidindo quando esta pessoa deve ou não ser mantida em uma posição favorável.
Prega-se uma igualdade sínica e uma ilusória linearidade, um paradigma mundial poderoso de reforço à intolerância e ao preconceito. Neste cenário, qualquer andarilho que ouse cantar suas lindas e trágicas cores originais de sua história é abatido cedo ou tarde. Aqui a única nuance permitida é o cinza.
O que fica destes ousados andarilhos senão tons de preto ou branco?
Espero um dia ver um mundo com pessoas que se permitam ver e respeitar outros tons e quem sabe as cores vibrantes deste lugar colorido, inclusive o preto e o branco.
Certamente, este último andarilho a sair de cena nos deixará mais que preto ou branco!
Rio, 30/06/09